Irmão Erasmo:
Hoje contarei o que aconteceu comigo, em 1.979, e, como Deus age em nossas vidas, por vezes, de maneira um tanto estranho a nós.
O ano era 1.978, quando cheguei em Rondônia, mais precisamente em Ariquemes, um “vilarejo” criado para integração do homem sulista e nordestino à plena Floresta Amazônica. Alguns de meus familiares já estavam nesta paragem havia um mês e já possuíam terras cedidas pela União, através do então INCRA. O local era o retrato da pré-história, não havia energia elétrica, água tratada, entre outras benfeitorias. Não havia trabalhos urbanos, a única saída era adentrar a área rural e comigo não fora diferente, logo que possível, consegui minhas terras (250 hectares) à 60 quilômetros de Ariquemes, mas seguindo por trilhas mais ou menos conhecidas, distava 150 quilômetros. Precisava ocupar, ou perderia a concessão e eu, caipira da cidade, com a única experiência de floresta adquirida quando ainda estava no Exército, enfrentei a situação, unindo-se a um grupo de novos “fazendeiros”, adentramos à mata fechada, cada qual com seus víveres às costas em um saco tipo mochila, pesando uns 30 a 40 quilos.
Após transpor rios, serras, pântanos, ouvir esturros de onças, ver vestígios dos temidos índios uru-eu-wau-wau, minha condição de citadino falou mais alto e a mais de 3 dias de peregrinação mata a dentro, meus joelhos começaram a travar, seguindo-se uma dor aguda insuportável, fazendo com que liberasse o pessoal para seguir adiante, enquanto eu fui ficando, com os joelhos sem poderem dobrarem-se, impossibilitando de andar na floresta onde há troncos, pedras, córregos e toda sorte de obstáculos.
No quarto dia a enfrentar insetos, espinhos e cobras, mais ou menos às 16h00, mas nesta floresta espessa, a impressão que se tem é que já é noite, as nuvens carregadas e negras pairavam sobre mim, literalmente, ouvia-se os estrondos dos trovões, as copas das árvores, por vezes, iluminavam-se com o cintilar dos relâmpagos, onde a gigante floresta amazônica enfrenta de igual para igual a imensidão das tempestades em um ritual assombrados de gigantes assustados.
Nestas condições, já não sabia para que lado estava o norte e muito menos, qual direção seguir, se os joelhos melhorassem. Com a noite viera a chuva, sem abrigo apenas ficava ora de um lado de uma árvore, ora de outro, rogando a Deus para que desviasse os raios de minha direção e rogando para sair daquela situação que não sinalizava por melhorar. Molhado até os ossos, podendo deparar-se com uma fera a qualquer instante, confesso que em toda minha vida não havia passado por situação semelhante. Passava da meia noite, quando em minha oração, vi-me forçado a abrir os olhos e a floresta, de repente estava iluminada, era uma estranha luz onde não havia sombras, isto percebi logo e estarrecido pensei: - algum raio acertou-me e creio que estou morrendo! Estava orando sentado, pois não havia como dobrar os joelhos e em um pulo, pus-me em pé. Bem, percebi que estava vivo e a chuva havia passado.
Fiquei algum tempo a meditar. Medo? Não sabia e nem tinha a honra de tê-lo. Cansaço, fome, dor? Isto sim, tinha com sobras. A vida passa como um filme diante de seus olhos. Nesta hora você não precisa de normas, regulamentos, doutrinas, leis; você precisa de Deus! Quando decidi colocar todas as minhas esperanças no Senhor Jesus, eis que surge entre os arbusto um homem, aparentemente com minha idade e estatura, eram umas duas horas da manhã; e, perguntou-me: - o que faz por aqui? Qual é o seu nome? Respondi: chamo-me Erasmo e estou aqui... contei-lhe minha história. A noite voltara a mais completa escuridão e apesar disto enxergávamos um ao outro, com certa dificuldade. Perguntei-lhe sobre a estranha “claridade” e ele disse-me que nada havia percebido. Continuando: -Vou tirar você daqui, por seus próprios meio, vou procurar algo para colocar nestes joelhos. Embrenhou-se na selva e após uns quinze minutos estava de volta com um misto de peixe e cobra nas mãos; fiquei assustado e ele disse-me: - Este é o peixe elétrico, tirarei um tipo de óleo ou banha e passarei em seus joelhos. Não havia como fazer fogo e não via como retirar a gordura de um peixe, tipo uma enguia. Ele entretanto amarou-o em um cipó e rasgou parte do saco que eu carregava os mantimentos e fazendo duas faixas colocou-as sob o peixe e passou a “riscar” o corpo do mesmo com uns espinhos e logo formou-se algum tipo de líquido nas faixas. Amarrou-as, cada uma em um joelho e armou uma rede (que eu trazia), entre dois arbustos e disse-me para repousar e somente levantar quando tivesse certeza que as dores haviam passado. Dizendo isto, afastou-se, tão misteriosamente, como chegara. Acredito que eram umas 03h00 Dormi profundamente, acordando com o dia clareando, entretanto, estava completamente descansado.
Levantei-me e nada sentia nos joelhos. Pensei, vou seguir a direção que o seringueiro me indicou, tentar andar o máximo que puder para quando a dor voltar estar mais próximo possível da saída. Deixei todos os mantimentos para trás e saí o mais rápido possível... fiz em um dia o que tinha levado três dias. Procurei saber quem era o forasteiro e todos os mais antigos na região foram unânimes em dizer que em toda a área do projeto, perfazendo um raio de uns 200 quilômetros, não havia quaisquer seringueiro, apenas índios que desciam desde as proximidades das serras Pacaas Novos e que na direção que eu estava, havia apenas o grupo que havia entrado comigo. Contei sobre o peixe e eles riram, pois conforme o local que eu descrevera, o próximo rio ficaria a mais de 20 quilômetros e o mais incrível, eu estava completamente fora da rota, possivelmente não acharia a saída tão facilmente. Então, não havia rio, não havia forasteiro, mas eu sempre soube o que acontecera e jamais esquecerei. Meus joelhos jamais voltaram a doer, fiz várias caminhadas posteriormente, adentrei até uns 150 quilômetros dentro da floresta e jamais senti quaisquer problema de saúde. Nem mesmo a malária, comum na região, atingiu-me. O local, de tão longe, hoje fica em outro município, não possuo mais as terras, apenas um cunhado mora nas cercanias, mantendo em suas terras, uma Igreja da CCB e uma Escola do Primeiro Grau. Passei a trabalhar na Prefeitura de Ariquemes e comandei por muito tempo o Sindicato Patronal Rural e a Associação dos Cacauicultores de Rondônia, conheci basicamente todos os ex-seringueiros e até ajudei-os em sua associação dos Soldados da Borracha e realmente, aquele homem que socorreu-me, não é por ninguém conhecido.
Não tenho a ousadia remeter o caso ao sobrenatural, apenas sei que Deus jamais abandona quem Nele confia, em quaisquer circunstâncias. Alguém Ele colocara naquele local e hora, para socorrer-me. Salmos 28:7 O SENHOR é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, nele fui socorrido; por isso, o meu coração exulta, e com o meu cântico o louvarei.
Hebreus 4:16 Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.
Deus Abençoe.